Alice era uma baiana em Londres. Uma baiana que adorava uma cerveja em copinho de boteco, ao ar livre, de preferência vestindo blusa sem manga. Pobre Alice foi parar em Londres. Lá as cervejas são servidas em copões. E a falta de sol declarou a extinção das blusas sem mangas. Daí a bichinha teve que se adaptar e virar cebola. Explico: ser cebola é usar várias camadas. São blusas com manguinha, com mangona, roupas com casaquinhos e casacões.
Era uma noite Londrina. Uma noite que só não era cinza porque não era dia. Alice saiu a fim de tomar uma, umas várias. Umas cervejas que ela preferia que fossem de copinho. Mas eram de copão. Tudo bem. Noite é noite. E cerveja é cerveja portanto que bata onda, mesmo que em Londres não exista verão. Alice chegou vestida de cebola, com suas camadas. Foi tirando-as, uma a uma, até virar baiana (da Bahia, não de acarajé, que essas também são cheias de camadas com suas anáguas). A cada camada, uma onda chegava na areia da praia imaginária nostálgica e soteropolitana de Alice. Vamos deixar de complicação? Alice ficou cheia do pau, bebinha, muito doida ou como você preferir. E o que é pior, muito pior. Alice ficou com vontade fazer xixi (com o perdão da rima mal feita).
O problema era a uma hora de buzu lotado (sim porque Londres é chique mas buzu é buzu em qualquer lugar do mundo) que Alice teria que encarar pra voltar pra casa. Alice decidiu colocar em prática o muito pouco que sabia sobre meditação e sabedoria oriental indiana e encarar o buzu, afastando da mente cervejinhas e copões e o xixi que clamava pra ser libertado.
Beleza. A técnica deu certo. Até que chegou o meio do caminho. Daí não teve meditação indiana. Não teve camada certa. Alice saiu igual a uma baiana na biela em época de carnaval. Desesperada. Banheiro de rua em Londres é igual a sol em Londres: não tem. Eis que surge uma miragem, uma revelação, o desenhinho mais lindo do mundo: a mulherzinha de saia com a palavra "toilet". Alice seguiu esta miragem como um dia os baianos seguiram o trio de Dodô e Osmar. Ao chegar lá, na porta do toilet, ainda vestidinha de cebola, uma decepção. A porta estava trancada. E o xixi tava com pressa. E assim como Alice desceu no ponto, o xixi desceu... nas calças de Alice.
Eis que surge um rapaz muito distinto. Alice apelou pra meditação da Índia mas tudo que consegui foi encontrar um segurança do Paquistão. "o que a senhora está procurando?" perguntou o rapaz, vestido de terno e gravata. "o ponto de ônibus", respondeu Alice, vestida de cebola molhada. "huummm... eu acho que não... o ponto fica lá na avenida, além do mais, eu pude observar a senhorita pelas câmeras" (importante notar que qualquer pessoa que more em Londres é filmada milhares de vezes por dia em diversas câmeras). "é, não tem jeito, sou uma cebola baiana criminosa e vou tomar uma multa por fazer xixi no jardim da rainha", pensou Alice. "foi, moço, o senhor viu certo, infelizmente, eu fiz xixi nas calças, não aguentei, desceu, queria ter uma explicação menos bizarra, mas essa é a pura verdade", confessou Alice com um sorrisinho amarelo xixi. "não gostaria de ir a um toilet de verdade?", perguntou o segurança charmoso. "sim, that would be lovely", respondeu Alice tentando inutilmente ser uma lady.
E assim, Alice chegou ao banheiro do escritório do segurança do Paquistão. Terminou as últimas prestações do xixi reprimido com dignidade. E saiu do banheiro com a cabeça erguida. "como é seu nome?" perguntou o rapaz do Paquistão. "Maria", respondeu Alice sabendo que tinha cara de latina mesmo e que o segurança provalmente nunca tinha ido à bahia, nego, não? então vá. "Maria, de onde vocé é?", perguntou o decepcionado rapaz. "Do Brasil", respondeu Alice/Maria já esperando chegarem o Pelé e o samba. "Pôxa (licensa poética porque não existe poxa em inglês), eu achei a senhora com cara de oriental, tipo da Índia ou Paquistão". E continuou: "nunca tinha visto uma mulher mijar assim". "Não?!" disse Maria com a sobrancelha em pé. "E o senhor acha então que as mulheres não mijam não, é?". "Não, assim, na rua". "mas tudo bem, eu entendi a situação da senhora, acho que nós deveríamos inclusive ficar amigos, gostaria de me dar seu telefone e sair um dia pra tomar uma café?"
Alice/Maria não podia acreditar que estava sendo queixada naquela situação: vestida de cebola molhada, na noite chuvosa de Londres e depois de ter sido flagrada pelas câmeras da rainha em situação tão humilhante. "olhe, senhor segurança, o senhor vai me desculpar, mas não dá pra sair nem ficar amiga de um senhor que me viu mijando na rua. Realmente, é demais para minha cabeça. O senhor é muito simpático e gentil, me desculpe". E saiu rebolando na noite que só não era cinza porque não era dia, se sentindo a mulher queixada mais queixona de Londres
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
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5 comentários:
Massa, adorei... Especialmente a parte do "Nunca tinha visto mulher mijar assim"... kkkkkkkkkk
Semana que vem passo aqui de novo...Bj
"Xixeers"!! Um brinde ao retorno do "Manual de Maneiras".
Muito bom voltar a dar risadas com as suas historinhas(ou de Alice?) pelo mundo afora!
kakakakak! amei, amiga! muito bom...foi verdade???
coisas q só acontecem c vc! rsrsrs
Querida!
Parabéns! Que talento!!!
Deus abençoe!!!
Espero que possamos trocar experiências!!!
Beijos!
Paz e Bem!!!
Aliceeeeeee!!!!! kkkkk. Já tô até vendo alice no final do ano. Amooooo.
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