Desculpe a redundancia, mas eu tenho umas paranoias muito loucas. Quando estou morando fora, as vezes tenho umas crises de insonia e panico. Acordo no meio da noite suando frio e sem saber quem eu sou, onde estou. Entao, como um antidoto contra minha ansiedade (a mesma que me faz comer os dedos) decidi escrever um post estilo "arvore genealogica". Quem sabe assim eu nao entendo melhor quem eu sou e de onde vim. A partir de hoje, vou iniciar um serie de posts sobre 4 figuras fascinantes (pelo menos pra mim): meus 2 avos paternos e 2 avos maternas. Mas primeiro as damas. Hoje, eu vou escrever sobre as mulheres.
Dona Any: mae de dona Mary Helen. Dona Any e uma figura no minimo paradoxal. Extremamente catolica, mas adora tomar uma (acho que puxei a ela e nao foi no catolicismo). Tinha um programa de radio em Santos, onde dava conselhos catolicos, e tambem foi dona de uma banquinha de produtos da Editora Paulinas. Vendia tercinhos, santinhos (que eu adorava quando era crianca) e livros religiosos. Teve umas ferias em que eu fui pra Guaruja. Gostava de passar os dias com ela na barraquinha (talvez porque as criancinhas paulistas ricas de Guaruja se recusassem a brincar com uma menininha nordestina e neta da dona da barraquinha). Aprendi a rezar todas as rezas e me convenci de que se eu rezasse o suficiente, Nossa Senhora apareceria para mim como apareceu para aquelas meninas em Fatima. Ao completar 11 anos, comecei a desconfiar que Nossa Senhora nao apareceria. De la pra ca, a desconfianca virou certeza e eu me tornei essa pessoa "agnostica" de hoje. Agnostica porque nao tenho, nem quero ter certeza de nada. Agnostica, porem supersticiosa. Tanto que nao dispenso as rezas de minha outra vo, Dona Fatima, quando vou pra alguma entrevista ou algum evento importante. Mas isso fica pro trecho sobre Dona Fatima. Voltando a Dona Any, quando ela vai pra praia gosta de pegar jacare, apesar dos seus 70 anos de idade. Causa um certo impacto ver uma senhora de maiozinho preto e touquinha se embolando no meio das ondas. Apesar de sempre ter morado longe dela, posso imagina-la aqui do meu lado dando uma de suas gargalhadas escandalosas. Ah! tambem acho que foi de Dona Any que eu herdei a mania de criar termos, adjetivos e palavras. A criacao mais celebre dela e a palavra "charlotada". Ou seja, o ato de fazer algo que meu avo Charley (marido dela) faria. E pra ficar sabendo mais sobre isso, so esperando ate o proximo post sobre os avos.
Dona Fatima: Sempre se autodenominou "ecumenica" numa epoca em que isso nem era moda. Era cantora na Igrejinha do Chame-chame (Salvador realmente tem uns bairros com nomes bastante esquisitos) ao lado do tocador de violao, Seu Medrado. Ao mesmo tempo, lia livros de Xico Xavier. Hoje, alem da igreja, frequenta o Centro Espirita do nosso parente, Jose Medrado. Antes de dormir, tira da gaveta (imagino eu) uma lista de pessoas para quem rezar. E a lista aumenta cada dia mais. Gracas a Deus, ou melhor, a Dona Fatima, eu estou sempre incluida nessa lista. Ela rezou pela minha bolsa do Fulbright, pela bolsa da Inglaterra e por diversos empregos. O indice de aprovacao dos pedidos, pelo menos no meu caso, tem sido bastante alto. Sinal de que a moral dela esta alta com o "Todo Poderoso". Dona Fatima tambem e meio "bruxa" e de vez em quando tem uns sonhos que se tornam realidade. Quando eu vim pra Inglaterra, quase esqueci o Santo Antonio que Dona Fatima tinha me dado ha uns quatros anos atras (eh... a familia, assim como a Drag Queen que fez uma performance no dia do aniversario de meu pai, comeca a mostrar sinais de preocupacao de que eu esteja ficando pra titia). Ela veio atras de mim com o santinho cuidadosamente embrulhado me dizendo: voce quase esquecia... Hoje eu nao saio de casa sem levar o santinho. Mas nao porque queira arranjar um marido em cada linha de metro. O Santo Antonio virou uma especie de amuleto da sorte e simbolo de protecao. Apesar de estar longe, posso sentir o perfume doce dela como se estivesse aqui do meu lado. E estou morrendo de vontade de ligar, pedir receita de nijadra (mijadra pega mal) e kibe. Sera que Dona Fatima sabe alguma receita pra lidar com ansiedade? Eu nao sei se acredito em Deus, mas eu, com certeza, acredito em Dona Fatima.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário